Billions: informativa e envolvente
Recentemente adicionada ao Netflix, Billions vem causando grande alvoroço entre os amantes de mercado financeiro. A série gerou impacto extremamente positivo entre os espectadores e já pode ser considerada como um divisor de águas. Distanciando-se de filmes como “O Lobo de Wall Street” e seguindo a linha do recente “A Grande Aposta”, Billions se apresenta como uma produção mais séria e conexa com a realidade.
A história relata a vida de Bobby Axelrod (à direita na foto acima), um gestor de fundos de hedge, que construiu sua carreira no mercado financeiro até fundar a Axe Capital, empresa da qual é proprietário. Ambicioso e gestor de um grande volume de capital, Axe frequentemente se encontra em situações complicadas, nas quais precisar tomar decisões certas rapidamente. Como nem tudo são flores, frequentemente o personagem opta por seguir caminhos legalmente questionáveis, que envolvem pagamento de propinas, subornos, espionagem e insider trading, a fim de manter sua empresa como uma das mais consolidadas e rentáveis do mercado.
Esse contexto leva o procurador geral do distrito Sul de Nova York, Chuck Rhoades, a intensificar suas investigações sobre o bilionário. Conhecido por seu rigor jurídico e por sua inflexibilidade com relação à crimes contra a ordem financeira, Rhoades arma uma verdadeira caçada à Axelrod, buscando provas concretas que o conectem aos supostos crimes cometidos. Por estar sempre um passo atrás do bilionário, a investigação se aproxima de uma obsessão, fazendo com que Rhoades frequentemente utilize meios ilícitos para tentar incriminar Axe.
Dinamizando ainda mais a trama, apresenta-se a psicóloga da Axe Capital, Wendy Rhoades, responsável por manter os traders da firma no seu “A game”. Coincidentemente, ela também é mulher do procurador geral responsável pelo caso. As brigas do casal acabam sendo inevitáveis, visto que Chuck investiga a empresa onde sua esposa trabalha. Isso afeta também a relação de Wendy com Axelrod, que passa a questionar frequentemente a lealdade da psicóloga.
Os episódios retratam o dia-a-dia dentro de uma asset management, uma inovação cinematográfica inteligente, pois sacia a curiosidade de muitos interessados em trabalhar ou em saber como é a rotina em uma instituição desse tipo. Os personagens utilizam uma linguagem técnica regularmente, o que faz com que o espectador passe assimilar conceitos e procedimentos importantes do mercado ao longo da série.
Vários aspectos da realidade estão presentes nos episódios, como a utilização dos Terminais Bloomberg nos computadores do escritório e a separação física entre a área de Compliance das demais (chinese wall). Também é frequentemente observável a cobrança diária de resultados dos analistas e gestores, o alto grau de responsabilidade depositada sobre todos os profissionais da empresa, os almoços em frente ao computador e as longas jornadas de trabalho.
Apesar do caráter realista, a série não deixa de lado o glamour do mercado financeiro. Operações de alto volume, recebimentos de cifras extraordinárias, carros e mansões de luxo estão presentes em todos os episódios, apresentados como usufruto do esforço individual dos profissionais. São retratados como confortos consequentes do desempenho da firma, e não como bens de ostentação.
A série ainda traz à tona uma série de questionamentos morais e éticos. Até que ponto o ser humano deve agir para conquistar seus objetivos? É válido transgredir a lei para prender alguém que também a violou? Como caracterizar um ato de insider trading e como puni-lo? Qual o preço do sucesso profissional? Existe um preço para valores morais e caráter pessoal?
Além disso, é nítido o conflito entre iniciativa privada X Estado, levado pela série a um nível extremo para ambos os lados. Ao mesmo tempo em que um mercado financeiro sem normatização e fiscalização estatal seria utópico (pelo menos no curto prazo, na minha opinião), a reflexão sobre os limites das leis que regem esse controle é bastante pertinente. Visto que o Estado apresenta dificuldades em operacionalizar o cumprimento a um rol tão extenso de normas, a via da autorregulação acaba surgindo como uma alternativa complementar à esse controle.
No Brasil, por exemplo, a ANBIMA, associação autorreguladora do mercado financeiro e de capitais, possui códigos de conduta que são ainda mais exigentes do que os artigos previstos na lei para o desempenho de certas atividades. A ANBIMA é uma entidade formada pela união de bancos, corretoras, gestoras, distribuidoras e administradoras e busca passar maior credibilidade ao investidor.
Entretanto, isso é assunto para um próximo artigo...
“Billions”, além de possuir uma história envolvente, é excepcionalmente informativa e ideal para quem quer aprender ainda mais sobre o mercado financeiro de forma leve e descontraída. Alguns episódios da segunda temporada já estão disponíveis no Netflix, e os próximos serão lançados na mesma plataforma nas próximas semanas.
Espero que curtam!
NOTA GERAL
TRAILER
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