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O Lobo de Wall Street: não leia o livro. Por quê?

Atualmente é difícil encontrar alguém que não tenha assistido ao filme do Lobo de Wall Street. Entre entusiastas do mercado financeiro, então, é praticamente impossível. Tendo isso em mente, assumo que boa parte dos leitores do artigo já conheça a história de Jordan Belfort. Meu objetivo, portanto, será convencê-lo de que você não deve perder o seu tempo lendo o livro, mas ainda assim deve ler esse artigo pois ele lhe trará informações valiosas que não estão no filme.


O livro começa narrando o péssimo primeiro dia de Jordan em uma corretora de Nova York. Trabalhando como conector em ligações de prospecção, ele conhece seu mentor, Mark Hanna, o qual é citado diversas vezes ao longo do livro por conta dos conselhos dados à JB. De forma repentina, o próximo capítulo narra sua queda de helicóptero, seis anos depois, no quintal de sua mansão enquanto pilotava drogado. A história não segue uma ordem cronológica, o que me incomodou um pouco logo de cara.


O livro fica bom quando Jordan começa a narrar o cotidiano da Stratton Oakmont, corretora que fundou. Ele explica como conseguia cativar seus corretores, como ganhavam dinheiro e qual era o estilo de vida dos stratonitas. Apesar de um ambiente agressivo e competitivo, todos se sentiam como parte da mesma família. Figura cativante e com uma oratória invejável, JB levava a multidão de corretores à loucura em minutos. Sua presença inspirava jovens a aplicar suas técnicas de vendas, as quais, éticas/morais/legais ou não, faziam chover rios de dinheiro nos bolsos de todos.


Um fenômeno interessante relatado no livro é que os corretores ganhavam muito, mas torravam seus salários instantaneamente. A sustentabilidade do alto padrão de vida dos stratonitas dependia do desempenho deles no mês seguinte. JB comenta que não eram raros os casos em que corretores precisavam pegar empréstimos para pagar suas ferraris e possuíam contas negativas nos bancos. No entanto, para Jordan, isso era ótimo, pois mantinha neles a ambição e o desejo de continuar no jogo.


Basicamente, a Stratton Oakmont era um banco de investimento. Isso possibilitava a emissão de ações de companhias que queriam abrir o capital (IPOs). Além disso, JB contava com um exército de corretores altamente treinados em uma época que o mercado de ações era pouco regulamentado e o controle sobre as negociações era mais difícil de ser operacionalizado pelas instituições governamentais. Esse contexto favorecia a manipulação de preços e, consequentemente, lucros exorbitantes.


Inicialmente, as ações iam a mercado por um preço pré-determinado. Como não havia uma separação clara entre a função de analista e de corretor, o poder de manipulação de preços pelas corretoras era gigantesco. Ou seja, caso fosse do interesse da firma, os corretores seriam instruídos a ligar incessantemente para seus clientes até convencê-los a comprar as ações que estavam lhe indicando. Os preços subiam por uma alta na demanda, provocada pelo grupo de corretores pertencentes à própria corretora, o que iniciava um efeito manada no mercado. JB, que possuía ações das empresas antes de seus IPOs, dobrava ou até triplicava seu capital em minutos.


O ambiente conflituoso nos negócios entre sócios, clientes e colaboradores da Stratton é outro aspecto interessante retratado no livro. JB consegue passar fielmente ao leitor a forma com que as negociações eram conduzidas nos bastidores. As disputas por controle acionário de empresas e empréstimos eram frequentes, o que requeria do Lobo um cuidado minucioso na forma de relacionar-se com as pessoas. A incerteza sobre a lealdade de seus amigos mais próximos era algo que sempre precisava levar em conta ao tomar uma decisão. Isso exigia grande habilidade para esconder suas verdadeiras intenções em certas situações, manipulando pessoas próximas e articulando com inimigos quando necessário.


Não demora até que as drogas entrem em cena e se tornem o carro chefe da narrativa. Jordan não economiza na hora de explicar os detalhes do uso de entorpecentes, contando o nome das substâncias, como as usava, a quantidade, e o efeito que cada uma lhe proporcionava. Festas e devaneios com garotas de programa também faziam parte da rotina. Seu vício em drogas e sexo frequentemente comprometiam seu desempenho profissional, sem contar o lado pessoal.


Entretanto, o convívio com a família foi algo que me surpreendeu positivamente. As brigas com a esposa eram rotineiras e ele acabava passando pouco tempo com os filhos, é verdade. Mas, apesar dos hábitos questionáveis, Jordan mostrava preocupação com ambos. Em diversas passagens ele faz questão de contar o quanto os amava e fazia questão de que tivessem tudo do melhor.​


Devido ao vício, Jordan acaba em uma clínica de reabilitação. Após recuperado, sua esposa pede o divórcio e ele precisa enfrentar uma série de processos judiciais. O resto da história é deixado para o próximo volume: “A caçada ao Lobo de Wall Street”.


Busquei o livro com o objetivo de filtrar tudo de hollywoodiano que pudesse ter sido exagerado no filme para fins comerciais. Esperava encontrar os caminhos tomados por Jordan para o crescimento da Stratton; descobrir mais sobre as técnicas de venda; como era a rotina da corretora e como funcionavam os procedimentos operacionais na época; como eram divididos os setores da corretora; e quais os motivos que levaram JB a abrir a Stratton.


Por outro lado, encontrei vários nomes de drogas da época, quais eram as quantidades consumidas de cada, e como deveria ser preparado um mix perfeito de substâncias entorpecentes para um “barato maneiro”. Encontrei uma série de vaidades, extravagâncias e hábitos que, se pertencentes a qualquer empresário nos dias de hoje, o eliminariam por seleção natural de qualquer ramo do mercado em que atuasse.


Além disso, o livro é longo. São 501 páginas. Isso não seria problema se o livro acrescentasse valiosas dicas e conhecimento de mercado, mas infelizmente, na minha opinião, não é o caso.

Jordan veio de origem humilde e construiu um império. Sua oratória e habilidade para vendas são reconhecidas até hoje. Parte de seus treinamentos de vendas podem ser encontrados no Youtube e valem cada segundo.


Acredito que conhecer a história de Jordan Belfort é importante. Mas ao fazê-lo, invista 3 horas vendo o filme, e não cerca de 15 a 20 horas lendo o livro.


NOTA GERAL

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