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Por Que a Bolsa Está Nos 71 Mil Pontos?

O artigo de hoje tem como intuito fazer uma análise sobre o momento atual de precificação da bolsa de valores brasileira. O trabalho se conduzirá no sentido de contextualização da situação da situação econômica brasileira, sobretudo no que tange ao aspecto fiscal. Além de tratar das mudanças promovidas pela equipe econômica que têm impacto direto sobre as expectativas dos agentes que hoje levam o Ibovespa próximo à máxima histórica atingida em maio de 2008.


Serão abordados alguns aspectos conjunturais de âmbito doméstico, para os quais terei o trabalho de desenvolver alguns eventos, que o investidor deve monitorar de perto esmiuçando em cada um suas possíveis implicações a partir de diversos desdobramentos. Apesar de achar que não se faz necessário para aqueles que estão no dia a dia do mercado, reforço que este texto tem tão somente o intuito de racionalizar o pensamento majoritário dos agentes do mercado e mostrar o porquê dessa precificação atual da bolsa. Nesse sentido, nenhum caráter ideológico será invocado nas explanações, muito menos como linha mestra e suporte para possíveis projeções – que também não serão feitas nesse artigo.


A situação fiscal brasileira pode ser descrita basicamente por esse gráfico abaixo:

Esse gráfico mostra a evolução das despesas e receitas do governo federal no acumulado dos últimos 12 meses. É um gráfico simples, mas que revela um aspecto central na análise da situação econômica brasileira. O principal ponto aqui é entender um princípio muito básico que todos aqueles que um dia foram responsáveis por gerir suas finanças sabem, mesmo que inconscientemente: “Despesas maiores que Receitas geram Déficit”. Pois bem, se avaliarmos com calma, sem muito esforço, percebemos que nesse gráfico, desde o início as despesas seguem em ritmo crescente, ao passo que as receitas podem ser divididas em dois principais períodos. São eles: Antes de setembro de 2014 e depois de setembro de 2014. No primeiro, as receitas mostram certo crescimento, mesmo que em nível menos acelerado que as despesas. No segundo vemos um início de inflexão que se concretiza em novembro de 2014 delineando uma tendência de queda na obtenção de receitas pelo Governo Federal.



A partir desse momento passamos a verificar despesas maiores que receitas crescendo em ritmo muito acelerado. Esse fenômeno tem origem em diversos movimentos conjuntos na economia real e na economia financeira que os levaram a tal situação. Deixo para um próximo artigo essa análise dado que o foco central é chegar até os dias de hoje e explicar o porquê da bolsa em 71 mil pontos. Pois bem, tivemos o impeachment da Dilma em maio de 2015 e o vice presidente Michel Temer tratou de montar suas equipes ministeriais. O teor do discurso do novo presidente era de que as equipes seriam formadas por profissionais técnicos em suas respectivas áreas. A equipe econômica foi a cereja do bolo e entraram pro Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles e para presidência do Banco Central Ilan Goldfajn. A partir da composição dessa equipe com outros nomes de peso começou-se a tratar de estabelecer um plano de recuperação econômica das contas públicas. Detalhadamente esse plano parece muito complexo para quem não está acostumado com os jargões econômicos. No fundo o plano diz: “Precisamos passar a gastar menos do que recebemos”. E assim o plano foi se sucedendo. A equipe estabeleceu os parâmetros sob os quais agiria e direcionou algumas pautas chaves para que pudessem finalmente passar a gastar menos do que recebiam. Ou seja, vamos tratar disso aqui:


“Vamos estabelecer um teto para os gastos públicos que vai limitar o gasto do ano subsequente a inflação do ano anterior”. PEC do Teto de gastos. Dentro da constitucionalidade brasileira uma PEC é uma forma de estabelecer uma regra e deve necessariamente passar pelo Congresso e pelo Senado. Imagine você como se comportaria a oposição que pouco tempo atrás estava no comando. Foi difícil mas passou. Mercado em alta. “A próxima etapa é a passagem da reforma da previdência”. Ainda está tramitando. “Vamos estabelecer reformas microeconômicas que garantam dinamismo a economia e favoreçam investimentos pela formação de um ambiente de negócios auspicioso”. Fizeram uma reestruturação nos financiamentos do BNDES direcionada em um primeiro momento, estabeleceram planos tributários que envolviam isenção para determinados setores chaves, atuaram em cima do câmbio por meio de política monetária. Tudo estava caminhando bem. O mercado estava comprando a ideia e chegamos a marca dos 69.500 pontos no Ibovespa. Até que veio o Joesley. Do dia pra noite tudo estava revirado. O país não tinha mais norte e tudo iria por água abaixo. O mercado entrou em uma onda de precificação difusa. Jogaram todos os avanços econômicos fora e começaram a precificar se o presidente ficava ou não no cargo. Passamos alguns apuros no dia seguinte da delação e que perdurou por algumas semanas.

Alguns bancos de investimento e casas de Research revisaram precipitadamente suas projeções para o Ibovespa no fim do ano. Assumo que eu também.


Foi catastrófico.


Alguns colocaram em 55 mil de 70 mil anteriores outros foram mais conservadores e revisaram de maneira gradual. Mas o fato é que a maioria não sabia o que estava acontecendo. Detalhe, bancos respeitados que não vou citar os nomes, mas que muita gente usa como parâmetro. Tudo isso advinha de um temor da perda da institucionalidade brasileira e de uma volta aos tempos em que os poderes se misturavam e ninguém sabia quem era responsável pelo que. Acontece que isso não se concretizou. Os gringos perceberam antes. Compraram o Brasil barato no dia do Circuit Breaker e começaram a ditar o tom do mercado.


A mídia nacional todo dia buscava um motivo para destruir qualquer perspectiva de retomada econômica. Os investidores nacionais estavam desesperados. Os gringos não estavam nem ai.


E assim se sucedeu o movimento da bolsa. Os estrangeiros tomando conta e injetando capital.

Temer não saiu e começou-se a debater outros temas que não somente sua manutenção no executivo. Até que veio o aumento do PIS/COFINS sobre os combustíveis. Uma tributação sobre a exploração de minérios e algumas outras medidas na calada da noite com base em uma canetada misteriosa. Também na calada da noite veio a privatização da Eletrobrás e meio que na surdina veio a mudança da TJLP para TLP. Hoje estamos em 71.000 domesticamente e resumidamente por esses fatores. O timing da precificação é importante pra quem faz trade mas é irrelevante para quem opera no fundamento. Vamos ao plano econômico.


PEC do Teto de Gastos: Atua na curva vermelha do gráfico, buscando diminuir os gastos do governo e travar o ritmo do crescimento das despesas. Reformas microeconômicas: Atua em ambas as linhas. Nas despesas quando reduz em última instância o intermédio da máquina pública e consequentemente os gastos. Nas receitas quando estabelece novas regras de tributação direcionadas em busca de maior arrecadação. Reforma da previdência: Atua diretamente na linha vermelha no sentido de diminuir o ritmo de despesas e ao mesmo tempo atua na linha azul de maneira indireta, especialmente pelo fator de expectativas sobre o controle do ritmo de crescimento do déficit, o que atrai capital e aumenta as receitas. Privatização da Eletrobrás: A privatização em si não vai consertar a situação fiscal brasileira mas abre espaço para uma obtenção de receitas, as chamadas não recorrentes, que estavam computadas no cálculo da meta fiscal, além de trazer à tona um fator expectacional muito forte no que tange a diminuição da interferência estatal sobre empresas brasileiras. Isso diz respeito ao fato de que existe agora uma possibilidade de turn around de gestão, fazendo com que essas empresas que antes só produziam prejuízos arcados pelo estado passem a produzir resultados positivos. Novamente atua no sentido de diminuição das despesas e aumento das receitas. TJLP para TLP: A principal mudança nesse ponto diz respeito a possibilidade de redução das perdas por empréstimos financiados pelo BNDES o que acarreta em uma diminuição de gastos e atua diretamente na linha das despesas. Um outro ponto importantíssimo e que está implícito é a maior possibilidade de atuação do Banco Central ao fazer política monetária.


Estamos com a bolsa a 71.000 pontos hoje derivado principalmente de uma expectativa de que esses fatores contribuam para a inflexão da linha entre receita e despesa. Gastar menos do que arrecadamos, voltar a investir e retomar a atividade econômica. É um princípio básico que faz uma diferença enorme para quem está começando no mercado. Espero ter contribuído. Depois disso, analisamos ponto a ponto, especificidades, efeitos e implicações de cada medida. Isso é assunto para os próximos artigos que certamente virão.



DISCLAIMER

O analista de investimento envolvido na elaboração do presente relatório declara que as recomendações aqui contidas refletem exclusivamente suas opiniões pessoais sobre os ativos recomendados. O conteúdo foi elaborado de forma independente e autônoma de qualquer empresa ou instituição financeira emissora dos produtos supracitados. O Clube de Investimentos e Finanças da UFPR declara que não é responsável institucionalmente pela opinião do analista responsável pelo relatório, apesar de reconhecer a importância do tema abordado.

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