AES Tietê e o Setor Elétrico. Buy or Hold ou Buy and Hold?
Prezados e Prezadas,
Esse novo artigo se concentrará na análise de um setor que gera muitas controvérsias entre os analistas de mercado. É um setor que particularmente me fascina e que exige um aprofundamento em questões tanto de cunho mercadológico quanto jurídico. A alta regulamentação que e a estrutura em um sistema integrado com diversos participantes conferem um tom especial ao setor de energia elétrica. Aproveitei também para analisar um ativo que pode se mostrar muito resiliente dadas as condições de precificação a qual se encontra atualmente e seu potencial de crescimento orgânico com a retomada da atividade econômica. Sem mais delongas, segue abaixo minha análise sobre o setor elétrico e sobre a AES Tiete (TIET11)
O Setor Elétrico
Funcionamento: O setor elétrico é divido em três principais subsetores que determinam a dinâmica das operações referentes ao setor como um todo. Esses setores são:
Geração de Energia Esse setor é responsável por gerar a energia através de variáveis fontes. No Brasil a mais comum é a energia gerada por Usinas Hidrelétricas (aproximadamente 70% da matriz energética brasileira) . Recentemente fontes alternativas geradoras de energia vem ganhando notoriedade, tais como energia termoelétrica e energia eólica. Algumas até ganham algum espaço no mercado, porém é notável ainda que esse novo tipo de fonte de energia não se mostra maduro o suficiente para ameaçar a geração de energia via hidrelétricas. As fontes alternativas em geral são mais utilizadas em momentos de escassez hídrica e ainda não são as preferidas devido ao alto custo de geração inerente a estrutura produtiva brasileira que ainda não consegue produzir em escala suficiente para redução do custo médio. O impacto nas contas nacionais pode ser verificado superficialmente sobretudo em relação a geração de uma pressão inflacionária dado que o setor elétrico é um setor com forte encadeamento com outros setores da economia, um aumento nos custos necessariamente pressiona o aumento geral no nível de preços pelo lado dos custos (inflação de oferta). Vale lembrar inclusive que o setor elétrico foi amplamente utilizado como instrumento de política monetária por gestões anteriores (leia-se governo Dilma Rousseff) quando os aumentos no preço da energia elétrica foram congelados e subsidiados para o setor industrial e do agronegócio acarretando mais tarde nos dois dígitos da inflação registrada em 2016. Outro ponto que inviabiliza o uso de energia alternativa é a forte impopularidade que acaba recaindo sobre o governo que a utiliza visto que o impacto mais imediato é um aumento na conta de luz repassado a população, conferindo a esse tipo de medida um caráter quase emergencial. É um setor que tem como principal driver o estoque hídrico. Quanto mais cheios estão os reservatórios, mais barata é a energia gerada. São exemplos de empresas de capital aberto com maior relevância que são geradoras de energia as seguintes:
- AES Tiete Energia S.A (TIET11) - ENGIE BRASIL ENERGIA S.A. (EGIE3) – Antiga Tractebel - Eletrobrás (ELET3 ) - Cemig (CMIG3) - Companhia Paulista de Força e Luz (CPFE3) - Cia Paranaense de Energia – COPEL (CPLE3)
- Alupar Investimentos S.A (ALUP11)
- Companhia Energética de São Paulo (CESP3) Transmissão de Energia A transmissão de energia é um setor um pouco menos volátil a fatores de ordem natural. Obviamente, sentem o peso pluviométrico, porém em proporção menor ao setor de geração. Pode-se dizer que o impacto é indireto pela quantidade de watts que circulam sobre os transmissores decorrentes de maior ou menor geração. Isso acontece devido ao fato de que a transmissão se refere ao tipo de serviço que tem por objetivo disseminar a energia gerada a diversos pontos do país. Essa energia é transmitida por cabos de alta tensão que são distribuídos por todo território nacional.
As transmissões funcionam por concessão e as empresas que desejam atuar no ramo devem participar de um leilão da Agência Nacional Energia Elétrica (Aneel) que definirá conforme as leis de concessão e de acordo com o melhor lance (maior deságio em relação ao preço máximo permitido) quais linhas são destinadas a determinadas empresas.
São exemplos de empresas de capital aberto com maior relevância que são transmissoras de energia as seguintes: - Transmissora Aliança de Energia Elétrica S.A. (TAEE11) - Eletrobrás (ELET3)
- Cia Paranaense de Energia – COPEL (CPLE3)
- Alupar Investimentos S.A (ALUP11) - Companhia Energética de São Paulo (CESP3) - Equatorial Energia S.A (EQTL3) * *Recentemente obteve a concessão de 7 linhas de transmissão no leilão da Aneel (Ainda não começou a operar no segmento)
Distribuição de Energia
A distribuição de energia é a ponta final da cadeia do setor elétrico e diz respeito a parte do processo onde a energia é canalizada por meio de transformadores e distribuída para uso por áreas urbanas e rurais. Essa é a parte do processo que diz respeito a eficiência na conversão da tensão da energia transmitida para evitar desperdícios
São exemplos de empresas de capital aberto com maior relevância que são distribuidoras de energia as seguintes:
- Eletrobrás (ELET3) - Light S.A (LIGT3)
- Companhia Paulista de Força e Luz (CPFE3)
- Companhia Energética de São Paulo (CESP3)
- Equatorial Energia S.A (EQTL3) - Eletropaulo Metrop. Elet. São Paulo S.A (ELPL4)
AES Tiete Energia S.A (TIET11) – A Companhia
Histórico
A empresa foi criada em 1999 em uma aquisição realizada pela grupo AES decorrente do processo de cisão da Companhia Energética de São Paulo (CESP). A empresa é uma geradora de energia com usinas principalmente no estado de São Paulo.
O número total de usinas que ela dispõe é de 12 usinas sendo subdivididas em 9 usinas e 3 pequenas centrais hidrelétricas. Composição acionária
Grande parte da composição acionária se encontra disponível para negociação (em Free Float). Esse fato favorece a mitigação do risco de decisões sobre o andamento da empresa pautado em interesses não inerentes a atividade da própria empresa, apesar da concentração de ações ordinárias pela AES.
Um exemplo disso é o fato de que o uso de alavancagem para caixa de alguma das controladoras mediante a deliberação de distribuição de dividendos acima do estabelecido por lei (25% do lucro líquido do exercício anual) não é uma estratégia viável para formação de caixa na controladora. Observamos que a AES que é a única controladora que tem poder de decisão sem a aprovação dos demais acionistas ordinários tem pequena parte das ações preferenciais, não sendo portanto beneficiária direta de uma política de caráter não técnico no que concerne a distribuição de proventos. Obs: Isso não impede a deliberação de pagamentos superiores a 25% do lucro líquido se a empresa achar interessante e se a projeção de investimento futuros não incluir incorporação de lucros retidos. Aliás, os pagamentos de proventos pela TIET11 têm se mostrado bem constantes e com retorno alto frente a concorrente direta que é a EGIE3.
Fontes: http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e-derivativos/renda-variavel/empresas-listadas.htm?codigo=18970 http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e-derivativos/renda-variavel/empresas-listadas.htm?codigo=18970
Notícias Importantes
A AES Tietê divulgou recentemente o balanço trimestral referente ao balanço do primeiro trimestre de 2017. “A AES Tietê apurou lucro líquido de R$ 126 milhões no primeiro trimestre de 2017, um resultado 69,2% maior que o ganho de R$ 74,5 milhões registrados no mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a R$ 259 milhões nos três primeiros meses deste ano, ante R$ 179,1 milhões de 12 meses antes, um aumento de 44,6%.
Em relatório que acompanha o release de resultados, a AES Tietê ressalta que houve um efeito positivo de R$ 56,5 milhões do maior volume de energia vendida no mercado spot, além de R$ 32,6 milhões da redução de custos com exposição financeira. Houve ainda efeito negativo de R$ 15 milhões por conta de transações no mercado livre de energia. A Margem Ebitda da companhia passou de 46,7% para 64,2%.
A receita líquida da AES Tietê somou R$ 403,2 milhões entre janeiro e março, uma evolução de 5,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Os custos e despesas operacionais caíram de R$ 204,1 milhões para R$ 144,2 milhões. A geração de caixa operacional da companhia foi de R$ 241,8 milhões no primeiro trimestre deste ano, queda de 26,8% na comparação anual. O resultado financeiro foi negativo em R$ 31,7 milhões, ante R$ 23,4 milhões negativos de um ano antes, uma piora de 35,5%.
A dívida líquida da AES Tietê aumentou 7,9% em um ano, passando de R$ 688,3 milhões para R$ 742,9 milhões. Assim, o nível de alavancagem da empresa, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, passou de 0,6 vez para 0,8 vez no mesmo período.” (Com Reuters, Bloomberg e Agência Estado)
1) A AES Tietê apurou lucro líquido de R$ 126 milhões no primeiro trimestre de 2017, um resultado 69,2% maior que o ganho de R$ 74,5 milhões registrados no mesmo período do ano passado.
- Muito em função da melhora econômica em cenário nacional. O que reflete maior demanda por energia principalmente pelo setor industrial e agropecuário. A recuperação do déficit hídrico no estado de São Paulo também contribuiu para a melhor receita decorrente de diluição do custo médio para produção de energia e dos menores preços de liquidação por diferenças que elevou a remuneração sobre a quantidade de energia gerada. Trecho comprovando: “Em relatório que acompanha o release de resultados, a AES Tietê ressalta que houve um efeito positivo de R$ 56,5 milhões do maior volume de energia vendida no mercado spot”
2) O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a R$ 259 milhões nos três primeiros meses deste ano, ante R$ 179,1 milhões de 12 meses antes, um aumento de 44,6%.
- O Ebtida é um indicador da capacidade de geração de receita pela empresa por isso é um indicador que está voltado a análise de capacidade operacional. Uma alta em geral significa modificações positivas em termos do gerenciamento de lucro e/ou de custos.
3) Houve ainda efeito negativo de R$ 15 milhões por conta de transações no mercado livre de energia.
- A concessão que estava no regime cumulativo (alíquota de imposto aplicada de 3,65%) acabou e os novos contratos estão no regime não cumulativo (alíquota de imposto aplicada de 9,25%). É um aumento que, acredito eu, já estava precificado pelo mercado por já ser esperada dado o prazo final de concessão por contrato. Por distorções temporais o mercado acaba descontando ainda um pouco mais no fato. O que abre janela de compra dado a subvalorização do ativo acima de seu valor. 4) A Margem Ebitda da companhia passou de 46,7% para 64,2%.
- Estabelece a proporção da capacidade de geração de caixa. Um resultado positivo indica aumento da proporção dos lucros sobre os custos, um negativo indica diminuição. É importante analisá-lo em conjunto ao Ebtida pois um resultado negativo nem sempre se reflete em Ebtida negativo. É importante para estabelecer qual a estratégia da empresa, se foco nas receitas ou nos gastos.
Trecho comprovando: “A receita líquida da AES Tietê somou R$ 403,2 milhões entre janeiro e março, uma evolução de 5,2% em relação ao mesmo período do ano passado”
5) A dívida líquida da AES Tietê aumentou 7,9% em um ano, passando de R$ 688,3 milhões para R$ 742,9 milhões. Assim, o nível de alavancagem da empresa, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado, passou de 0,6 vez para 0,8 vez no mesmo período.
- A alavancagem determina a capacidade de investimento da empresa por representar o quanto do capital de terceiros compõe o fluxo financeiro da empresa. Em geral uma alavancagem baixa pode significar baixo nível de investimento, forte geração de caixa ou perfil de endividamento controlado. Um nível de alavancagem alta pode dizer respeito a estratégia de investimento com financiamento de capital de terceiros ou perfil de endividamento descontrolado. O mercado precifica em cada caso de uma maneira pois como pode-se perceber a mesma alavancagem pode significar estratégias eficientes e descontrole sobre o fluxo financeiro.
No caso da AES Tiete a Dívida Líquida/Ebtida se encontra em um patamar muito controlado (Em geral o mercado assume 3x como divisor). Minha leitura é de que
a baixa alavancagem abre espaço para um maior pagamento de dividendos pela incorporação de lucros retidos.
Análise Técnica
Curto prazo ( Swing Trade)
- Gráfico Diário
O ativo vem se comportando com tendência de baixa nos últimos dias deixando topo no dia 03/05 com fortes dificuldades para recuperar o patamar de preço alcançado nessa data. Fez um repique no dia 17/03 que coincidiu com o suporte da média móvel de 200 períodos que é a média utilizada pelos fundos de investimentos externos para determinar entradas e saídas de operação pelo capital estrangeiro. Tentou trabalhar acima dessa Média Móvel porém após a formação de segundo topo não suportou a pressão e a partir daí engatou uma baixa um pouco mais acentuada podendo refletir em parte a debandada do capital externo do ativo transformando drasticamente o fluxo em um fluxo vendedor que pode ser comprovado pela alta quantidade de candles negativos (vermelhos) após a perda da referência da média de 200 períodos. O alto volume de negociação coincidente na data corrobora para a tese de que a saída de capital foi em peso e que a baixa não era de origem exclusiva do mercado, havia um movimento significativo no papel. A realização do movimento de venda se deu na formação de três candles positivos 27/03 a 29/03 e a tendência de baixa voltou a predominar no ativo. Até o último pregão 05/05/2017 o ativo se comportava de maneira estável possivelmente pela apreensão da divulgação de resultado ao mercado que aconteceu hoje (08/05/2017). Ao que tudo indica o mercado apreciou bastante os números divulgados e dirigiu a forte alta no pregão (+4,63%) em disparidade ao Ibovespa que caiu 0,27% e inclusive ao índice do setor elétrico (IEEX) que caiu 0,21%. Tal fato indica um movimento segregado do mercado, o que pode significar uma releitura positiva para a empresa. O volume de capital negociado nos últimos dias colabora com a leitura dando ainda mais subsídio a forte expectativa do mercado em relação a divulgação do balanço. Ressalto que com o candle de hoje o ativo rompeu uma resistência importante que é a média móvel de 20 períodos porém “saiu” da banda de Bolliger que é um indicador que utiliza-se de desvios padrões a partir de duas distribuições normais para determinar um intervalo onde a probabilidade de variação do ativo é de 95%. Assim sendo quando o ativo sai dessa banda existe uma grande chance de que ele trabalhe para voltar para seu interior. Esse fato contribui para minha visão de que o espaço para subir é alto (Até aproximadamente R$ 14,39 em um primeiro momento – Média Móvel Longa (72 períodos)) porém deve sofrer correções pontuais nos próximos dias. OBS: Indicação de compra mesmo só no rompimento da média de 200 períodos com potencial de ganho muito alto e risco de perda baixo. A perda dos R$ 12,80 pode indicar continuidade e configuração mais clara de tendência de baixa. O último fundo formado e a proximidade do canal que o ativo está trabalhando desse fundo podem abrir oportunidades mais claras de compra contra tendência. Em caso da formação de um candle verde no pregão amanhã de maneira que os candles voltem ao interior da banda indica que o suporte foi testado e passou no teste.
Médio e Longo Prazo (Buy and Hold)
- Gráfico Semanal
Movimento semelhante ao do gráfico diário indicando fractais (tempos gráficos) positivamente correlacionados. Tal semelhança torna mais fácil a leitura e pode ser avaliado como forma de verificação da leitura já postulada anteriormente.
Chamo atenção porém pelo forte candle de alta nessa semana (último candle) que foi correspondido com um alto volume de negociação – superou em um dia toda média semanal dos últimos períodos. A proximidade com o suporte da média longa (72 períodos) pode definir a direção do ativo. Caso rompida nos próximos dias tende a formar movimento de rompimento da média de 200 períodos que é a linearidade referência para investimentos estrangeiros.
A partir do rompimento e da manutenção desse rompimento as resistências se mostram mais fracas, com poucos toques em últimos topos, abrindo espaço para uma valorização bem avantajada.
É importante ressaltar também que a média de 200 períodos para esse ativo é ainda mais representativa que no gráfico diário pois tem por característica a busca por proteção de carteira e sólido pagamento de proventos. Assim sendo o tipo de operação nesse papel não costuma ser tão especulativo quanto as blue chips e se foca mais no médio e longo prazo.
Conclusão
Pra quem busca uma luz no fim do túnel acho que chegou a hora de gastar fósforos em lixas desgastadas.
DISCLAIMER
O analista de investimento envolvido na elaboração do presente relatório declara que as recomendações aqui contidas refletem exclusivamente suas opiniões pessoais sobre os ativos recomendados. O conteúdo foi elaborado de forma independente e autônoma de qualquer empresa ou instituição financeira emissora dos produtos supracitados. O Clube de Investimentos e Finanças da UFPR declara que não é responsável institucionalmente pela opinião do analista responsável pelo relatório, apesar de reconhecer a importância do tema abordado.