top of page

Carta Conjuntura Abril – Clube I&F UFPR

 

Políticos de Estimação: você já extinguiu o seu?

 

PANORAMA GERAL

 

Caro leitor,

​

Antes de começar: que mês foi esse, hein? No mês de abril tivemos de tudo, tensões em várias partes do mundo, cenário eleitoral brasileiro ainda em aberto, resultados econômicos mistos, etc. Mas provavelmente o fator a se destacar como marco em abril (histórico, inclusive) será a questão política. Vimos, como nunca antes na história deste país, um ex-presidente ser condenado e cumprir pena pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Mais importante do que a prisão em si é a mensagem que ela transmite, de que as instituições devem ser maiores que os indivíduos.

​

Entendemos como instituições as organizações e seu conjunto de regras (formais ou informais). Elas são remodeladas pelo comportamento de seus participantes e portanto interferem nas decisões de uma sociedade. As instituições públicas, quando bem planejadas e consolidadas, tendem a gerar externalidades positivas ao funcionamento político e, consequentemente, para a administração estatal e para o sistema econômico. Quando mal desenhadas (caso brasileiro) tendem a criar assimetrias e disfuncionalidades na economia como um todo. Os momentos de crises podem se tornar momentos positivos de transformação, quando canalizadas para a direção correta. E neste ponto, reforço o foco em um plano de desenvolvimento estrutural de longo prazo, ao invés da polarização política e extremista de discussões rasas que presenciamos e que em nada contribuem para o desenvolvimento nacional. Fico particularmente admirado pelas paixões e ânimos que a política aflora, afinal, é preciso ter muita convicção para discutir com todos e defender um político que não te conhece, do qual as ações você não acompanha plenamente, que não está totalmente alinhado com seus pensamentos/valores e que provavelmente em algum momento vai te decepcionar. Dessa forma, justifico o título deste texto e deixo o seguinte questionamento: por que você ainda mantém o seu?

​

Neste mês percebemos no campo econômico uma série de indicadores mistos que confundem o mercado quanto à trajetória e efetividade das medidas econômicas tomadas pelo governo e de retomada da atividade econômica. Pode-se atribuir parte dessa incerteza ao fator político que segue com as incertezas conforme aproximam-se as eleições e avançam as investigações dos esquemas de corrupção. Internacionalmente verificamos a aparente redução de uma guerra (Coreia do Norte), mas já ganhamos duas no seu lugar (Síria e Irã). Assim sendo, volatilidade e incerteza serão as palavras nos noticiários!

​

ECONOMIA

​

IPCA abaixo do esperado: o IPCA registrou alta de 0,09% em março, segundo dados divulgados pelo IBGE no último dia 10. O recuo em relação a fevereiro, quando o índice avançou 0,32% refletiu principalmente a variação dos componentes de educação e transportes. Em educação saímos de uma alta de 3,89% para outra de 0,28%, efeito da dissipação dos reajustes escolares. Já nos custos de transportes houve oscilação de uma elevação de 0,74% para uma deflação de 0,25%, reflexo da queda intensa nas passagens aéreas, impacto reduzido do reajuste de ônibus urbano e retração dos preços de combustíveis no período analisado.

​

Queda no superávit: O Brasil registrou no mês de abril um superávit comercial de 6,142 bilhões de dólares, correspondendo a uma queda de 11,8% sobre igual período do ano passado. O número é reflexo de uma piora nas exportações de 3,4%, frente ao ano anterior, fechando em 19,932 bilhões de dólares. Já as importações mantiveram-se em alta, com crescimento de 10,3%, frente ao ano anterior, fechando em 13,790 bilhões de dólares.

Destaca-se a alta das importações puxadas pela venda de bens de capital (+36,2%), bens de consumo (+12,2%), bens intermediários (+6,3%) e combustíveis e lubrificantes (+6,3%). Referente à retração das exportações houve queda em todas as categorias, enfatizada pelos manufaturados (-4%), básicos (-2,9%) e semimanufaturados (-2,7%).

​

Bancos centrais mundo a fora: o Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas, mostrando confiança em relação ao crescimento da atividade e à convergência da inflação. Assim, a taxa de liquidez ficou em 0%, a de depósito em –0,40% e a de refinanciamento em 0,25%.  O BCE mostrou-se confiante em linha com o cenário de redução de ociosidade na economia e de aceleração no crescimento dos salários, apesar de transparecer certo incômodo com o núcleo de inflação ainda bastante deprimido.

​

O Banco Central do Japão (BoJ) também não alterou a sua política monetária, porém reduziu suas projeções de inflação e ajustou sua comunicação em relação à meta. A taxa de juros de curto prazo foi mantida em -0,1% a.a e a autoridade monetária reforçou seu compromisso de compra de títulos, de forma a manter a taxa de juros de dez anos próxima de zero. Em relação à inflação, o BoJ reduziu suas projeções para 2018, passando de 1,4% para 1,3%, distante da meta de 2% (que em comunicado abandonou a previsão de atingimento da meta).

​

O Federal Reserve (Banco Central dos EUA) decidiu manter a taxa de juros no país no patamar entre 1,5% e 1,75%, decisão divulgada pelo Fomc nesta quarta (2). O foco do comunicado do comitê foi o aquecimento do mercado de trabalho e a perspectiva de alcance da meta de 2% de inflação no médio prazo. Dessa forma, o Fed continua seu processo de normalização dos juros, sem necessariamente sinalizar que o contexto econômico já necessita maiores no curto prazo nos Fed Funds, deixando assim em aberto a quarta alta de juros discutida por alguns analistas. O Fed aguardará por respostas mais críveis da inflação, apesar das pressões recentes dos custos de energia (principalmente o petróleo) e das T-10 dos 3%.

​

No que tange ao Brasil, espera-se que o Banco Central do Brasil reduza as taxas de juros em 0,25% na próxima reunião do Copom que acontecerá em maio, alcançando 6,25%. Especula-se se haverá novos cortes ou se o comitê espera o timing para a economia responder as defasagens dos estímulos anteriores.

​

Focus reajustado: segundo dados disponibilizados na última segunda (30), o mercado manteve as projeções do PIB para 2018 e 2019. Espera-se uma alta de 2,75% do PIB este ano (estimativa anterior era 2,84%). Para o próximo ano espera-se uma alta de 3%. No âmbito cambial houve alteração para o dólar em 2018. A mediana das expectativas para o câmbio ao final do ano passou de R$ 3,33 para R$ 3,35. Para 2019, a projeção do câmbio continua no mesmo patamar do mês anterior, em R$ 3,40.

​

Moody’s: a agência de classificação de risco Moody’s melhorou a perspectiva de nota de crédito do Brasil de negativa para estável (Ba2), movimento este contrário ao tomado pelas demais agências de classificação de riscos. No retrospecto das demais agências a S&P foi a primeira a rebaixar neste ano a nota do Brasil, anunciando o corte em 11 de janeiro, justificado pela dificuldade em aprovar reformas com efeitos de longo prazo e medidas fiscais de curto prazo. Em seguida, ocorreu o rebaixamento pela Fitch, em 23 de fevereiro, que citou a trajetória crescente de dívida pública e o fracasso de reformas legislativas sob as finanças públicas. Em nota, a Moody’s citou como principais razões para manter o rating estável a expectativa de que as reformas serão aprovadas no próximo governo e o crescimento econômico do país mais forte que o esperado no curto e médio prazo.

​

Vale ressaltar que o país está há mais de dois anos sem o grau de investimento. Com os recentes rebaixamentos anunciados, a nota do Brasil recuou para o patamar de 2005. Quanto melhor a nota, mais seguro é o investimento - e consequentemente menor será o juro cobrado pelos investidores para, por exemplo, investir em títulos de dívida de um país.

Para onde vai o dólar?: após relativa estabilidade a qual se encontrava desde 2016, o real mostrou depreciação de cerca de 12% nos últimos três meses, saindo de R$/US$ 3,15 em 24 de janeiro e alcançando R$/US$ 3,55 em 02 de maio. Pode-se atribuir ao movimento de depreciação o aumento das tensões comerciais entre China e EUA, levando aversão ao risco nos mercados internacionais; a consequente queda nos termos de troca; as saídas de dólares (em fevereiro e março no spot e, em abril, no derivativo); o impacto da redução do diferencial de juros BR/USA e o fato de o Brasil ser um dos mercados emergentes de maior liquidez em termos de derivativos e moedas, sendo fácil desfazer posições.

​

EUA surpreende: o Departamento de Análise Econômica norte-americano publicou no dia 27 a primeira prévia do PIB, referente ao primeiro trimestre, informando que a economia dos EUA cresceu 2,3% (anualizado). O mercado esperava um crescimento de 2%, sendo surpreendido pelo resultado. Contudo, houve desaceleração frente ao crescimento no último trimestre de 2017, no qual o crescimento foi de 2,9%.

​

Crescimento chinês: o NBS, órgão de estatística oficial do governo chinês, divulgou dados referentes à atividade econômica no primeiro trimestre deste ano e informou que a economia chinesa cresceu 6,8% na comparação com o mesmo período de 2017. Na comparação com o período anterior, retirada a sazonalidade, verificou-se uma pequena desaceleração, de 1,6% no quarto trimestre de 2017, para 1,4% no primeiro trimestre de 2018. Os destaques positivos para o resultado referem-se ao aumento dos investimentos em 7,5% na comparação entre os anos, puxado pela construção civil. Como ponto negativo verifica-se a queda das exportações líquidas, refletindo a desaceleração recente das exportações.

​

Petróleo nas alturas: em meio as tensões geopolíticas criadas pela recente intervenção militar na Síria coordenada pelos EUA e conjuntamente com a redução de produção na Venezuela, o petróleo WTI para maio fechou em alta de 0,48%, a US$ 67,39 por barril. O barril do Brent para junho avançou 0,78%, a US$ 72,58. São os maiores níveis de fechamento em mais de três anos (13/04/18).

​

Tesouro bate recorde: relatório divulgado pelo Tesouro Nacional informou que no mês de março houve um crescimento do número de investidores cadastrados no Tesouro Direto na ordem de 65,2 mil, alcançando o recorde de 2.050.454 investidores. Houve um crescimento de 55,1% em relação a março de 2017. O total de investidores ativos também foi o maior da série histórica, totalizando 591.034 pessoas. O título mais demandado pelos investidores foi o Tesouro Selic, representando 43,1% das vendas (R$ 485,52 milhões). Logo em seguida, as vendas de títulos indexados à inflação que corresponderam 36,4% (R$ 410,3 milhões) do total, enquanto os prefixados compõem 20,38% (R$ 229,36).

​

No cenário econômico a recuperação mais lenta da atividade e as incertezas eleitorais devem continuar prejudicando o desempenho dos ativos locais.

​

Outro ponto de atenção, agora no mercado externo, é o referente aos títulos do tesouro norte-americano de 10 anos (T-note) que alcançaram o patamar de 3% pela primeira vez desde 2014. Possíveis aumentos de inflação nos EUA levariam o Fed a acelerar o ritmo de aperto monetário, elevando os juros de modo mais intenso, aumentando o yield das Treasuries. Assim, fica no radar se ocorrerá um afluxo de investidores e empresas para a busca de hedge no dólar, levando a uma fuga de recursos externos alocados em países emergentes para ativos mais seguros (mas com menor rendimento), o chamado “flight to quality”.

​

POLÍTICA

 

Prisão do Lula: denunciado em 2017 na Operação Lava Jato no caso do tríplex do Guarujá, Lula foi condenado por lavagem de dinheiro e corrupção pelo juiz Sergio Moro em julho daquele ano. Em janeiro de 2018, o TRF4 confirmou a decisão de primeira instância e aumentou a pena para 12 anos e 1 mês de detenção. No dia 4 de abril, o Supremo Tribunal Federal rejeitou por seis votos contra cinco o pedido de habeas corpus do ex-presidente, abrindo caminho para efetivação de sua prisão. Moro decreta então no dia seguinte a execução da prisão do ex-presidente, dando um prazo de 24 horas para que Lula se apresentasse à Justiça Federal em Curitiba.

Contrariando o pedido, encaminhou-se para o Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, onde havia iniciado sua carreira política. Apenas na tarde de 7 de abril de 2018 ele se entregou, saindo do sindicato direto para um carro da Polícia Federal sendo encaminhado para Curitiba.

​

Corrida eleitoral: a primeira pesquisa Datafolha pós prisão do ex-presidente Lula foi divulgada no último domingo (15/04) e trouxe o ex-ministro Joaquim Barbosa (PSB) competitivo, Marina (Rede) empatada com Bolsonaro (PSL) e Alckmin (PSDB) estagnado. A pesquisa mostrou também que mesmo preso, Lula continua um candidato forte (com cerca de 30% das intenções de votos), apesar de sua provável ausência nas urnas em outubro devido à condenação por corrupção e lavagem de dinheiro, estando assim vetada candidatura pela Lei da Ficha Limpa. Mesmo assim, o PT ainda mantém a intenção de candidatá-lo ao pleito presidencial, cabendo à Justiça Eleitoral a análise do caso. Os candidatos que mais se beneficiariam com essa ausência seriam Marina Silva e Joaquim Barbosa, captando parte dos votos do petista.

​

A pesquisa apontou, no cenário em que Lula não disputa as eleições, Jair Bolsonaro com 17% das intenções de votos, Marina Silva com 15-16% dos votos e Joaquim Barbosa oscilando entre 9 e 10%. Na sequência estão Ciro Gomes (PDT) com 9% e Alckmin oscilando entre 7 e 8%. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.

​

Operação Skala: foi deflagrada no dia 29 de março pela PF a operação que tem por objetivo a coleta de provas para o inquérito que investiga se o presidente Michel Temer editou decreto a fim de favorecer empresas portuárias em troca de propina para favorecimento em contratos. O presidente nega a ação. A investigação foi instaurada a partir dos depoimentos de Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores da Operação Lava Jato. Em maio de 2017 um decreto assinado por Temer aumentou o prazo de concessões das áreas portuárias de 25 anos para 35 anos (podendo ser prorrogadas por até 70 anos).

​

A polícia também investiga o possível recebimento de dinheiro para o presidente, ainda que e forma de doação para a campanha eleitoral, para a criação dos decretos em benefício do setor portuário. Algumas das empresas alvo da investigação são a Rodrimar, Libra e Multicargo. Investiga-se também uma reforma na casa da filha de Temer. A obra foi conduzida pela arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher de João Batista Lima Filho (amigo de Temer e suposto intermediário da propina paga para aprovação dos decretos), que teria recebido pagamentos de altos valores em espécie, segundo a investigação.

​

Delação do Palocci: A PF enviou o acordo de delação premiada do ex-ministro Antônio Palocci para homologação no TRF-4 que deve ocorrer nas próximas semanas. Palocci é réu acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo a empreiteira Odebrecht e contratos de sondas com a Petrobras, sendo condenado a 12 anos de prisão. Palocci foi ministro da Fazenda no governo Lula e da Casa Civil durante o governo Dilma Rousseff. Especula-se que os principais alvos da delação sejam os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, que não tem foro privilegiado.

​

O último a sair apaga a luz: com a data limite para desincompatibilização de cargos públicos do último dia 6, dez ministros do presidente Michel Temer deixaram o governo para concorrerem nas eleições deste ano. Segundo a legislação eleitoral, os ministros de Estados devem estar afastados de funções públicas seis meses antes da eleição caso queiram se candidatar para mandatos eletivos. Este é o mesmo prazo para que ocorram as filiações partidárias dos aspirantes às eleições. Na mesma data também encerrou-se a chamada janela partidária, que permite, durante 30 dias, aos deputados mudarem de partido sem risco de perder os mandatos. A seguir estão os integrantes que deixaram o governo para concorrer no pleito de outubro: Ricardo Barros (Ministério da Saúde), Maurício Quintella (Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil), Mendonça Filho (Ministério da Educação), Marx Beltrão (Ministério do Turismo), Osmar Terra (Ministério do Desenvolvimento Social), Fernando Coelho Filho (Ministério de Minas e Energia), Leonardo Picciani (Ministério do Esporte), Sarney Filho (Ministério do Meio Ambiente), Paulo Rabello de Castro (BNDES), Helder Barbalho (Ministério da Integração Nacional), Henrique Meirelles (Ministério da Fazenda).

No cenário político de maneira geral, apesar da baixa probabilidade de candidatura, continua o radar atento sobre o Risco Lula e seus eventuais apoiados (caso não possa se candidatar). Também há como ponto de atenção a série de delações que estão por vir e quem elas irão atingir, deixando assim mais incerto quais são os candidatos que estarão nas urnas em outubro. Dessa forma, até o presente momento, o que se pode tomar como certo é a incerteza.

 

INTERNACIONAL

​

Paz entre as Coreias (até quando?):  Após alguns meses de constante incerteza quanto a uma possível guerra nuclear protagonizada pela Coreia do Norte e EUA, o mundo foi surpreendido. Na última quinta (26) ocorreu o inesperado encontro entre o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. No ato, após se cumprimentarem, Moon aceitou o convite de Kim e pisou brevemente no lado Norte da fronteira, sorrindo. Em seguida, ambos cruzaram para o lado Sul. Kim é o primeiro líder norte-coreano a pisar em solo sul-coreano desde o final da Guerra da Coreia (1950-1953), que terminou com um cessar fogo em vez de um tratado de paz. Na sexta (27) os líderes comprometeram-se a assinar um acordo de paz para acabar com a guerra entre os países ainda este ano. Também concordaram em trabalhar pela completa desnuclearização da península. O presidente da Coreia do Sul deu créditos a Donald Trump para o avanço das negociações e reaproximação com o seu irmão do Norte.

​

Questiona-se porém qual a durabilidade dessa “paz”, visto que, de tempos em tempos quando a situação econômica piora consideravelmente, principalmente em momentos de colheita problemática, a Coreia do Norte inicia ameaças constantes, principalmente nucleares, seguidas de discussões com os Estados Unidos, sanções internacionais e posteriormente encontra-se a “paz”. Nessa “paz”, o país recebe ajuda humanitária, alimentos, algum nível de abertura comercial que sustenta a falsa felicidade do regime por mais um período, até tudo piorar novamente. Será que agora será diferente?

​

Que tiro foi esse?: Na madrugada de sexta-feira (13/04) para sábado os EUA lideraram um ataque multinacional com o apoio do Reino Unido e França contra a Síria. O ataque deu-se por meio do lançamento de 105 mísseis de cruzeiro, lançados a partir de navios destroieres e cruzadores. O objetivo da intervenção era inviabilizar a estocagem e a fabricação de agentes químicos pelo exército sírio, que foi acusado de promover o uso de tais armas contra a cidade rebelde de Duma. A tensão na região tem aumentado, principalmente, pela polarização entre as maiores potências militares do mundo, Rússia e Estados Unidos, tensão esta que não é só um embate pela influência no Oriente Médio (herança da Guerra Fria), mas também pela redução da principal carta geopolítica da Rússia (dependência energética da Europa em relação ao petróleo e derivados extraídos em território russo e regiões de influência).

​

Novo Pacto Comercial: A União Europeia e o México fecharam um novo acordo de livre comércio diante do crescente protecionismo dos Estados Unidos imposto por Donald Trump. Após ter seus planos de uma aliança comercial com os EUA congelada após a vitória do novo presidente, a União Europeia buscou por novos acordos. O acordo em princípio com o México segue um acordo fechado no ano passado com o Japão e antecipa as negociações que serão feitas com o Mercosul. Para o México, um acordo com a UE faz parte de uma estratégia para reduzir sua dependência dos EUA (para o qual exporta 80% de sua produção). Este movimento torna-se urgente dado o esforço de Trump para reescrever o NAFTA. O Pacto UE-México engloba produtos industriais, agrícolas, serviços, investimentos e compras governamentais e inclui disposições sobre padrões trabalhistas, ambientais e combate à corrupção. Dessa forma, segundo informado pela Comissão Europeia, praticamente todo o comércio de mercadorias com o México ficaria isento de impostos. O acordo também permitirá que as empresas mexicanas façam licitações para contratos governamentais na Europa e empresas da UE para aqueles no México. Negociadores de ambos os lados continuarão trabalhando para produzir o texto final ao final do ano.

Irã: O novo ponto de tensão mundial volta-se às incertezas sobre se o presidente Donald Trump irá renovar o pacto nuclear com o Irã. O acordo atômico que foi firmado há três anos e que nos próximos dias pode ser derrubado unilateralmente pelos Estados Unidos tem por objetivo flexibilizar embargos e sanções impostos contra o Irã ao longo dos anos para evitar que o regime persista num projeto de desenvolver armas atômicas. O contexto ainda coloca de um lado Israel que considera o Irã uma ameaça, e vem pressionando por ações militares no país e do outro o Irã. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, informou ter provas de que o Irã está burlando o acordo nuclear que foi firmado em 2015 com os governos de EUA, França, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China. Em resposta às acusações, autoridades iranianas negam a produção de bombas atômicas.

​

Donald Trump critica o acordo com o Irã desde a campanha eleitoral. Mike Pompeo, secretário de Estado americano informou já ter conhecimento de parte dos documentos apresentados pelo governo israelense, mas deixou claro que são necessárias novas investigações para o caso.

​

Fim de uma dinastia: Cuba anunciou no último dia 19 seu novo presidente. Nuevo, pero no mucho. Assume o poder o vice Miguel Díaz-Canel, eleito pela Assembléia Nacional como novo presidente cubano, após a saída de Raul Castro após 12 anos no poder. Assim, pela primeira vez desde 1959, Cuba deixará de ser governada por um Castro. Díaz-Canel está alinhado com os pensamentos de Fidel e Raúl e é conhecido pela lealdade ao regime. A dúvida é se ele fará as reformas econômicas e dará novos passos na abertura do mercado ou manterá um rígido controle estatal na economia e na opinião pública para manter a estabilidade do país. Raúl Castro continuará à frente do Partido Comunista, que é quem dita as regras na política cubana.

​

Outro ponto de atenção será qual a postura adotada pelo novo presidente frente ao governo norte-americano. Com discordâncias e embargos históricos, o país viu uma luz no fim do túnel no governo Barack Obama. Com Trump, viagens de americanos e transações comerciais entre empresas dos EUA e entidades militares cubanas estavam proibidas. Nestes termos, a China deverá ser a principal inspiração para Cuba dar continuidade às aberturas política e econômica no país.

​

Tchau Unasul: Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru suspenderam sua participação na União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Dessa forma, o bloco criado em 2008 pelo presidente venezuelano Hugo Chávez para contrapor o domínio norte-americano na região teve baixas em metade de seus participantes. A aliança se desfaz em um cenário de deriva da condução do bloco e da ascensão de vários governos de centro-direita em diversos países da região, que estreitaram o relacionamento com Washington nos últimos anos.

​

Cúpula das Américas: o encontro realizado no último dia 12 marcou o final da chamada era bolivariana, onde presidentes de esquerda extremamente críticos aos EUA dominavam as reuniões. Na reunião, 15 países, ou seja, todos da declaração de Lima mais os EUA, assinaram um comunicado em que apontaram que não reconhecerão as eleições de maio da Venezuela se não forem realizadas com transparência, justiça e democracia. A cúpula esteve centrada no combate à corrupção. Os chefes de Estado assinaram o Compromisso de Lima, uma declaração com 57 obrigações onde propõe que os signatários incluam cláusulas anticorrupção em todos os contratos de Estado e de associação público-privada, estabeleçam registros de pessoas naturais e jurídicas vinculadas com atos de corrupção e lavagem de ativos para sua contratação. Também propõe ampla cooperação entre as autoridades investigativas e judiciárias.

 

No campo internacional verificamos mais uma vez pontos de tensões desaparecendo e nascendo mas, de alguma forma, todas tem um mesmo denominador comum: Donald Trump. Assim sendo, parece que na geopolítica atual a melhor forma de acompanhar o mercado é seguir o presidente dos Estados Unidos no Twitter para acompanhar em primeira mão os acontecimentos desse mundo incerto. Agora uma coisa é certa: de tédio ninguém vai morrer.

DESTAQUES EMPRESARIAIS

 

Destaques Nacionais:

​

Advent quer controle do Walmart para garantir reestruturação completa, o fundo de Private Equity Advent International identificou que para realizar um “turnaround”, será necessário adquirir uma porcentagem majoritária do Walmart no Brasil, desconsiderando um aporte minoritário especulado nos últimos dias. As conversas estão avançadas e alguma definição é esperada para os próximos dias.

Com dificuldades no Brasil e paralelamente à busca por um sócio, O Wallmart começou uma tentativa de recuperação das vendas de seus hipermercados, fazendo reformas nas lojas e ajustes nas operações. No comércio eletrônico, decidiu parar de vender itens diretamente aos consumidores finais e passou a atuar apenas no marketplace.

​

A EDP - Energias do Brasil passou a deter 19,62% da Centrais Elétricas De Santa Catarina depois de ter investido 13 milhões de euros na compra de mais de 1,9 milhões de ações da empresa brasileira. A EDP indica ainda que com esta aquisição, que será efetivada em 02 de maio, a EDP, Energias do Brasil passa a deter um total de 2.427.820 ações preferenciais, que somadas a 5.140.868 ações ordinárias, representam 19,62% do capital social da CELESC.

​

Azul informou que a norte-americana United Airlines aumentou sua participação na empresa para 8%, de 3,7% anteriormente. O aumento na participação ocorreu após a United concluir transação privada de ações preferenciais com a Hainan Airlines. "Esse investimento reforça nossa estratégia, nosso plano de negócios, nossas oportunidades de crescimento e nossos 11 mil tripulantes, que cuidam de nossos clientes todos os dias", disse o presidente da Azul, John Rodgerson, em comunicado.

​

A Petrobras anunciou a divulgação de duas oportunidades de desinvestimento (teasers) na área de refino e logística, reunindo ativos sob duas novas subsidiárias, chamadas Nordeste e Sul, das quais pretende vender 60% de sua participação acionária.


A subsidiária do Nordeste reúne as refinarias Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, e Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, além de dutos e terminais integrados, operados pela Transpetro. São dois terminais aquaviários, Madre de Deus e Suape, e três terminais terrestres – Candeias, Itabuna e Jequié -, além de dois dutos de suprimento de petróleo, um poliduto e 35 dutos de derivados interligando as refinarias às bases e terminais de distribuição.

​

Banco Inter é o primeiro a abrir o capital em quase uma década, vendeu as suas ações a R$ 18,50 em sua abertura de capital (IPO) na B3 e captou R$ 722 milhões, revela o site da CVM nesta quinta-feira (27). A faixa de preço indicada no prospecto das ações ia de R$ 18 a R$ 23. O coordenador da operação foi o banco Bradesco BBI.A oferta primária, que vai para a empresa, girou R$ 541,463 milhões. A secundária, que vai para os acionistas vendedores, captou R$ 180, 487 milhões.

​

Hapvida vai a R$ 19 bi na estreia: A demanda para a Havida superou em pouco mais de seis vezes a oferta - o maior múltiplo em cinco anos, segundo a B3. A oferta girou R$ 3,3 bilhões, conforme os dados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As ações, que foram vendidas a R$ 23,50 no IPO, encerraram o dia a R$ 28,85, uma valorização de 22,77%. O valor de mercado foi a R$ 19 bilhões. A operadora de saúde é líder nas regiões Norte e Nordeste. Foi criada em 1979, em Fortaleza, e tem um modelo verticalizado, com 25 hospitais próprios, 74 clínicas, 17 unidades de pronto atendimento, 67 laboratórios e 72 unidades de diagnósticos por imagem. O modelo agradou aos investidores, pois permite que a empresa tenha um controle maior de custos e, consequentemente, da margem.

Aquisição da Kroton: a Kroton Educacional avançou nas negociações para a aquisição da Somos Educação. Com valor de transação estimado em R$ 6,3 bilhões, a maior parte deste valor é destinado à compra dos 73,3% pertencentes à Tarpon, enquanto o restante destina-se aos acionistas minoritários. O presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, garantiu que apesar do aumento da dívida, estima-se que o índice Ebitda (lucro antes de juros, impostos e depreciação) cresça em 16%. Logo após a confirmação das negociações as ações da Kroton tiveram alta de 4%, enquanto as da Somos Educação dispararam 47%. No começo do mês a Kroton criou a Holding Saber para ativos do segmento.

 

Aquisição da Raízen: A Raízen Combustíveis adquiriu nesta terça-feira (24) os negócios da Shell na Argentina, pelo valor de R$ 3,3 bilhões. Essa transação representa a primeira expansão internacional do grupo de combustíveis brasileiro. Segundo as informações fornecidas pela empresa, calcula-se um aumento de R$ 870 milhões no EBITDA. A Shell garantiu que continuará participando do negócio de derivados do petróleo como acionista da Raízen.

 

Rumo (Rail3): a Rumo Logística foi denunciada pelo Ministério Público do Trabalho por propiciar condições análogas ao trabalho escravo. O relatório divulgado colocou a empresa na lista suja de companhias investigadas. 

​

Privatização da Infraero: conforme veiculado pelo jornal "O Globo" da última segunda-feira, o governo federal encerra as discussões sobre a privatização da Infraero, dando espaço agora ao debate dos termos da venda e possíveis futuros sócios da estatal. A União pretende vender ao menos 51% de toda a Infraero, estudando a possiblidade de chegar a 80%, venda esta que geraria uma receita expressiva entre R$ 10 bilhões e R$15 bilhões. Governo defende que as medidas são inevitáveis, haja visto que, em caso contrário, dentro do período de um ano e meio a estatal se tornaria completamente dependente da União.

​

Marfrig torna-se a 2ª maior empresa de carne do mundo:  o frigorífico Marfrig anunciou a aquisição de 51% da empresa americana National Beef, em transação de US$ 969 milhões, que é a quarta maior processadora de carne norte-americana. Assim, a nova Marfrig torna-se a 2ª maior empresa de carnes do mundo. Também foi anunciada a pretensão de venda total da americana Keystone (fornecedora de processados de carne para redes como McDonald's e Subway). Estas duas notícias demonstram o compromisso com a desalavancagem, concentrar o core do business em carne bovina e ter acesso a novos mercados (a National Beef exporta para mais de 40 países, incluindo Japão e Coreia do Sul, mercados fechados às exportações de carne brasileira atualmente).

 

Vazamento de dados da Vivo: O Ministério Público do Distrito Federal abriu processo para averiguação do possível uso e tratamento ilegal dos dados de cerca de 73 milhões de usuários brasileiros por parte da operadora de telefonia celular Vivo, para fins de publicidade. O alvo da investigação refere-se à plataforma Vivo ADS, que é uma plataforma de marketing para celular lançada em maio de 2016 na qual o cliente interage com publicidade apresentada pela própria operadora e, muitas vezes, ganha benefícios como pacotes de internet móvel ou descontos em produtos e serviços. Segundo a investigação, seria este o “canal” de compartilhamento dos dados com os anunciantes. A empresa informou que “cumpre rigorosamente a legislação vigente e não promove qualquer uso ilegal de dados pessoais de seus clientes”. O caso ressalta a importância do Marco Civil da Internet, que assegura aos cidadãos brasileiros os direitos de inviolabilidade da intimidade e da vida privada, além do direito de não fornecimento a terceiros de dados pessoais, salvo com livre consentimento, expresso e informado. Netshoes e Uber também estão sendo alvo de investigações por vazamento de dados de seus clientes.

Destaques Internacionais:

​

Amazon: Duas grandes corretoras de Wall Street foram as primeiras a dizer que a Amazon.com vai valer mais de 1 trilhão de dólares depois que a gigante norte-americana do varejo online divulgou mais uma série de fortes resultados trimestrais. Analistas do Macquarie e da Monnes, Crespi, Hardt and Co elevaram seus preços-alvo para as ações da Amazon para 2.100 e 2.200 dólares respectivamente, o que atribui à companhia valores de mercado entre 1,02 trilhão e 1,07 trilhão de dólares. Os analistas destacam que mesmo sem expansão da margem em varejo, os demais negócios da companhia podem guiar um crescimento muito significativo.

​

Comcast: O grupo norte-americano de TV a cabo Comcast fez uma oferta de 22 bilhões de libras (31 bilhões de dólares) pela companhia de televisão por assinatura Sky, superando em 16 por cento uma proposta de aquisição já acertada pela empresa como a Fox. A Comcast, que fez uma primeira oferta de 12,50 libras por ação em fevereiro, afirmou que vai continuar trabalhando com conselheiros independentes da Sky para conseguir uma recomendação para sua oferta.

​

Spotify faz listagem direta recorde na bolsa e valor da empresa chega a US$ 30 bi. A líder mundial do serviço de streaming de música realizou no último mês a maior listagem direta já realizada, dando após o dia do ocorrido um valor de mercado de quase 30 bilhões de dólares. As ações abriram a 165,90 dólares, alta de quase 26 por cento ante o preço de referência de 132 dólares por ação estabelecido na Bolsa de Nova York na noite desta segunda-feira. A decisão do Spotify de colocar as suas ações para serem negociadas publicamente por meio de uma rara listagem direta, ao invés de uma oferta inicial de ações (IPO), provavelmente será observada por outras empresas tentadas a ingressar na bolsa sem a venda novas ações e por banqueiros que poderiam perder milhões de dólares em futuras taxas de subscrição.

​

Verfione: A empresa de pagamentos Verifone Systems chegou a um acordo para ser comprada pelas companhias de private equity Francisco Partners e British Columbia Investment Management, por US$ 3,4 bilhões.

​

Caro leitor, por fim, a grande lição do mês de abril pode ser resumida por aquele velho jargão, que parecia esquecido há muito tempo no Brasil: não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você. E com isso reforço a importância de instituições fortes em um país e da soberania da democracia.

​

Nestes termos, deixo alguns trechos do voto histórico do Ministro Luís Roberto Barroso, durante julgamento referente ao mérito do habeas corpus do ex-presidente Lula no último dia 4, onde analisa algumas das mazelas do país e “lava a alma dos brasileiros”:

“[O sistema penal brasileiro] é feito para prender menino pobre, e não consegue prender essas pessoas que desviam por corrupção e outros delitos milhões de dinheiros, que matam as pessoas. O desvio mata as pessoas: gente que morre na fila da saúde, gente que não recebe educação, gente que morre na estrada que não sofreu a reforma, gente que anda enlatada em transportes públicos de má qualidade. Tudo dinheiro desviado pela corrupção e não se consegue pegar essas pessoas, e não vai se conseguir, se nós mudarmos isso hoje [revogação do precedente que permite a prisão após a segunda instância]”

​

“Nós não prendemos os verdadeiros bandidos no Brasil. Portanto, três consequências devastadoras da decisão de 2009 [prevalência da tese de que a prisão só é possível após o trânsito em julgado]: incentivo à recorribilidade procrastinatória, aumento da seletividade d sistema e descrédito junto à população. Que eu repito: não é sensação de impunidade, é impunidade de verdade que a gente vê trafegando na rua"

​

“Um sistema judicial que não funciona, faz as pessoas pensarem que o crime compensa”

“Eu não quero deixar um país assim para os meus filhos. Um paraíso de homicidas, estupradores e corruptos. Me recuso a participar, sem reagir, de um sistema de justiça que não funciona”

Agradecemos ao caro leitor pela atenção em mais esta edição e deixamos aqui o convite para as próximas.

Bons investimentos e até junho!

Atenciosamente,

 

Marcelo Takao Tano

Fundador e Diretor Financeiro

Economia/Política/Internacional

Lucas Yoshioka Nemer

Fundador e Diretor Institucional

Destaques Empresariais

bottom of page